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O que é a ‘parede de drones’ que a Europa quer construir para se proteger da Rússia

Proposta é ventilada na União Europeia após drones russos invadirem espaço aéreo polonês no início de setembro

A União Europeia discute a criação de uma “parede” ou “muro de drones” para reforçar a defesa das fronteiras ao leste diante da ameaça de aeronaves não tripuladas russas. A iniciativa foi mencionada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, em discurso no dia 10 de setembro, quando afirmou que a Europa “deve atender ao apelo” dos países bálticos para “construir um muro de drones”. Segundo ela, “esta não é uma ambição abstrata, é a base de uma defesa crível”.

O comissário de defesa da UE, Andrius Kubilius, confirmou que pretende reunir ministros da defesa para negociar a proposta após drones russos terem sido abatidos no espaço aéreo polonês no início de setembro. O projeto, conhecido como Muro de Drones do Báltico, envolve Polônia, Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia. O objetivo é fortalecer a linha de fronteira da União Europeia e da Otan contra ameaças vindas do leste.

No centro da iniciativa está o Eirshield, um sistema de defesa antidrone desenvolvido pela empresa estoniana DefSecIntel e pela letã Origin Robotics. O Eirshield combina radares, câmeras e detectores de radiofrequência para identificar drones e outros artefatos não tripulados. De acordo com o presidente da DefSecIntel, Jaanus Tamm, o sistema avalia a direção e o nível de ameaça de um drone para decidir se deve bloquear o sinal ou neutralizá-lo com outro drone.

O cofundador da Origin Robotics, Agris Kipurs, explicou que o sistema é “totalmente automático”, com uso de inteligência artificial em todas as etapas, da detecção à interceptação. Segundo ele, o Eirshield foi projetado para alvos de voo rápido, capazes de superar 200 quilômetros por hora, e pode ser equipado com diferentes tipos de drones, inclusive modelos já produzidos pela DefSecIntel. Kipurs destacou que o custo por uso é de “dezenas de milhares de euros”, valor inferior aos “alguns milhões” dos sistemas tradicionais de defesa aérea.

Partes do Eirshield já foram utilizadas na Ucrânia, sendo acopladas a sistemas de armas para derrubar drones de baixa altitude como o Shahed – drone iraniano amplamente utilizado pelas forças russas. Para aplicação no báltico, Tamm afirmou que o equipamento deve ser adaptado aos padrões da Otan e ao uso em “tempos de paz”, o que implica maior cautela na identificação dos alvos. Entre as alternativas está o uso de redes ou pequenos drones para neutralizar aeronaves sem explosões.

O projeto, contudo, depende de definições políticas de Bruxelas. Empresas envolvidas esperam que a reunião convocada por Kubilius resulte em medidas concretas. “O que esperamos é a confirmação de que esse problema é sério e que eles querem agir. Não apenas ‘vamos nos reunir novamente e fazer outra declaração’, mas um plano muito concreto”, disse Tamm à Euronews Next.

Até o momento, a Comissão Europeia recusou uma proposta de financiamento de 12 milhões de euros apresentada por Estônia e Lituânia. Apesar da sugestão, governos nacionais já destinam recursos próprios: a Estônia reservou 12 milhões de euros em três anos, a Letônia firmou contratos de 10 milhões de euros para pesquisa e desenvolvimento, e a Lituânia informou ter recebido 11 milhões de euros da UE para compra de drones, incluindo três milhões para equipamentos antidrones.

Quando implementado, o muro de drones deverá substituir sistemas tradicionais de defesa antimísseis, mas pretende preencher uma lacuna diante do aumento do uso de drones em conflitos militares. Para Kipurs, a diferença está na natureza da ameaça.

“Os sistemas atualmente em uso foram projetados para ameaças muito mais caras, como mísseis neutralizantes e aviação tripulada. Não foram projetados para interceptar drones de ataque. Essa ameaça é muito nova, então estamos apenas projetando para ela agora”.

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