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Críticas à ONU expõem crise do multilateralismo e impasses na organização

Trump foi um dos líderes que criticou a Organização durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas

Em quase uma hora de discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou parte do tempo para fazer críticas à organização, principalmente como mediadora de conflitos.

Apesar da repercussão dos comentários, especialistas entendem que há um comprometimento na relevância da ONU para o enfrentamento de crises globais, causadas, principalmente, pelo enfraquecimento do multilateralismo, da questão orçamentária e dos impasses políticos e ideológicos.

Na fala, o presidente americano criticou a administração da organização e se disse responsável por mediar e terminar sete conflitos ao redor do mundo. Segundo ele, a ONU teria um “ótimo potencial, mas não está cumprindo”.

“Qual é o propósito das Nações Unidas? Na maioria dos casos, pelo menos por enquanto, tudo o que parecem fazer é escrever uma carta com palavras muito fortes e nunca dar seguimento a essa carta. São palavras vazias, e palavras vazias não resolvem guerras”, declarou.

Em um discurso semelhante, o presidente da Argentina, Javier Milei, também fez críticas à organização. Na assembleia, o argentino chegou a argumentar que a ONU substitui um modelo de “cooperação” por um de “governo supranacional”, buscando impor regras aos cidadãos.

Milei sugeriu, ainda, uma reestruturação na organização, com trocas na administração e encerramento de programas.

Para a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, o enfraquecimento do multilateralismo abriu espaço para iniciativas unilaterais e para a criação de fóruns paralelos, reduzindo a centralidade da ONU. O cenário atual é marcado por um impasse quase permanente nos principais órgãos da organização – o que compromete sua relevância no enfrentamento das crises globais.

O cientista político do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro explica que, atualmente, a organização vive um momento de “bastante debilidade”. Segundo o especialista, a dificuldade de mediação diplomática, devido ao aumento da tensão entre potências, somado à ascensão de movimentos políticos nacionalistas e céticos, contribuiu para o enfraquecimento da organização.

Atuação em conflitos

O enfraquecimento da ONU não é recente e vem se aprofundando nos últimos anos, em parte, pelo corte do financiamento pelos EUA para a manutenção de missões e projetos.

Na visão de Maurício Santoro, houve falhas sistemáticas da organização em prevenir ou mitigar conflitos, como da Ucrânia e do Oriente Médio. Assim, essa fragilidade põe em risco os próprios propósitos da ONU, que incluem a prevenção de conflitos e a busca de soluções pacíficas.

EUA e China

Com o eventual corte de verbas dos EUA para as Nações Unidas, potências igualmente fortes, como a China, por exemplo, pode aproveitar a oportunidade para tentar preencher esse “vácuo”.

Na contramão dos EUA, a China se mostrou disposta a assumir um compromisso com pautas ambientais e defendeu a manutenção do multilateralismo.

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