Por que EUA querem recuperar base no Afeganistão próxima a instalações nucleares chinesas
Trump voltou a defender retomada da Base Aérea de Bagram, perdida em 2021, mas terroristas do Talibã rejeitam ideia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender a retomada da Base Aérea de Bagram, no Afeganistão, abandonada durante a retirada norte-americana do país, em 2021.
Em uma coletiva de imprensa no Reino Unido, o republicano disse que a base tem importância estratégica por causa da proximidade com instalações nucleares da China. Ele afirmou que a base, localizada ao norte da capital afegã Cabul, está a “uma hora de distância” de locais onde a China desenvolve armas nucleares, embora não tenha especificado quais.
A Base Aérea de Bagram foi o principal centro das forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão por duas décadas. Durante a caótica retirada dos EUA em 2021, sob o governo de Joe Biden, a base foi entregue às forças afegãs e, posteriormente, ficou sob controle do grupo terrorista Talibã.

Trump criticou duramente a decisão de abandonar a instalação, alegando que bilhões de dólares em equipamentos militares foram deixados para trás. Ele também afirmou, sem apresentar provas, que a base estaria sob influência chinesa, o que foi negado pelo governo afegão.
O Pentágono estima que a China possuía cerca de 600 ogivas nucleares operacionais em 2024 e que o país planeja expandir seu arsenal para 1.000 até 2030.
A proximidade de Bagram com regiões como Xinjiang e Gansu, onde estão localizadas instalações nucleares chinesas, como o local de testes de Lop Nur e novos campos de silos de mísseis em Hami e Yumen, seria um dos motivos para o interesse americano, segundo o site de notícias norte-americano Business Insider. A base poderia facilitar operações de inteligência, reconhecimento e vigilância.
Talibã rejeita ideia
O Talibã, no entanto, rejeita categoricamente a possibilidade de uma presença militar norte- americana no Afeganistão. Zakir Jalal, do Ministério das Relações Exteriores do Talibã, afirmou que a ideia foi “completamente rejeitada” durante as negociações do acordo de Doha, em 2020, que culminou na retirada dos EUA.
Ele acrescentou, em uma postagem no X, que os afegãos historicamente não aceitam presença militar estrangeira no país, mas que as portas estão abertas para outros tipos de cooperação.
Trump, que no início de seu segundo mandato colocou a retomada de Bagram como prioridade, insiste que a base é essencial não pelo Afeganistão, mas pelos interesses estratégicos em relação à China. Ele não forneceu detalhes sobre como os EUA recuperariam a instalação, atualmente sob controle do governo afegão.
Uma investigação da rede britânica BBC, que analisou imagens de satélite de 2020 a 2025, encontrou pouca atividade em Bagram desde a tomada do Talibã e nenhuma evidência de presença chinesa na base.
Nesta sexta-feira (19), o Ministério das Relações Exteriores da China disse que respeita a soberania do Afeganistão e que o futuro do país deve ser decidido por seu povo.