Acordo UE-Mercosul é visto como estratégico para o Brasil diante de entraves comerciais com EUA
A Comissão Europeia validou o acordo com o bloco sul-americano, o que não significa ausência de obstáculos, como avaliam especialista

Após 25 anos de negociações, a União Europeia validou o acordo comercial com países integrantes do Mercosul, incluindo o Brasil. O avanço da proposta, que ainda depende da aprovação dos países-membros para implementação, ocorre em momento estratégico diante da incerteza comercial gerada pelos Estados Unidos ao impor tarifas para diversos países, ponto ressaltado pelo bloco durante o anúncio da validação.
O Brasil enfrenta dificuldades com as tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump, contexto que acentua a importância da possível finalização do documento. Apesar do progresso, especialistas entendem que o caminho para finalização do acordo não é livre de obstáculos, principalmente devido às críticas feitas pelo setor agrícola francês.
No comunicado divulgado, a Comissão Europeia reforça a importância do acordo para diversificação comercial, crescimento econômico e promoção de interesses.
“Num momento de crescente instabilidade geopolítica, estes acordos aproximam-nos de parceiros estrategicamente importantes, proporcionando uma plataforma partilhada para reforçar a confiança mútua e enfrentar desafios globais comuns”, ressalta.
Para o especialista em relações internacionais Guilherme Frizzera, a aprovação do texto não é vista como garantida, mas há uma expectativa de que o conteúdo avance rumo à assinatura em dezembro, em Brasília, durante a cúpula do Mercosul.
A ação, segundo Frizzera, “teria forte valor simbólico após duas décadas de negociações e abriria caminho para a criação de uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo”.
O entrave vem, principalmente, de setores agrícolas europeus e condicionantes ambientais, explica o especialista em comércio exterior Jackson Campos.
“O processo de ratificação envolve instâncias na União Europeia e nos países-membros, o que pode alongar prazos e exigir salvaguardas em produtos sensíveis. Também haverá necessidade de coordenação interna no Mercosul para cumprir compromissos de implementação”, diz.
Na França, por exemplo, setores agrícolas têm classificado o acordo como “inaceitável” por temer uma concorrência desleal com produtos sul-americanos. Os franceses criticam a diferença de padrões ambientais e sanitários, alegando que a importação de mercadorias que não possuem as mesmas regras impostas aos produtos europeus geraria uma competição desigual.
“O debate dentro do bloco europeu contrapõe os benefícios estratégicos de diversificação comercial e fortalecimento de laços internacionais às pressões internas de setores considerados sensíveis. Apesar da inclusão de cláusulas adicionais para responder a essas preocupações, ainda não há consenso pleno. Por isso, a aprovação não pode ser vista como garantida”, comenta.