Estados atingidos pelo tarifaço temem impacto social da guerra comercial
Apesar de alívio com exceções, UFs que têm nos EUA seus principais parceiros comerciais ainda esperam impacto a alguns de seus exportadores e buscam novos mercados

Alguns dos estados brasileiros mais afetados pelo tarifaço – por terem nos Estados Unidos seu principal parceiro de negócios – avaliam que a guerra comercial de Donald Trump pode refletir-se num problema social a suas populações. É o caso do Espírito Santo, por exemplo, que direcionou 27,5% de suas vendas internacionais aos norte-americanos em 2024.
Apesar de segmentos importantes de sua pauta exportadora – como siderurgia, minério, pellets, celulose e quartzo – terem sido poupados da alíquota de 50%, “há um conjunto de outros produtos que não conseguimos ver incluídos ainda na lista de exceções”, segundo o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), que coordena a resposta do estado ao tarifaço.
“Nós estamos um pouco mais aliviados, porque a nossa exportação para os Estados Unidos é da ordem de US$ 3 bilhões por ano, e dois terços já foram resolvidos. […] Nós temos agora, residualmente, alguns outros importantes produtos que continuam nos preocupando muito, mas continuamos conversando, inclusive, com as entidades que representam os clientes dos Estados Unidos”, afirmou Ferraço.
Dentre os setores menores que dependem do comércio com os EUA, o vice-governador do ES lista os produtores de pimenta do reino, gengibre, pescados – dos quais, segundo ele, 100% do que é exportado pelos capixabas vai para os Estados Unidos – e frutas, em específico mamão papaya.
Os pescadores e os pomares brasileiros são alguns dos mais preocupados com o tarifaço. Apesar de seus produtos não aparecerem no topo da balança comercial com os EUA, são muito dependentes do comércio com o norte-americano em termos proporcionais. Do grupo “pescado inteiro vivo, morto ou refrigerado”, 87,7% das vendas foram destinadas aos EUA em 2024.
“A corda já arrebentou para os aquicultores. O que tenho comentado é que se vai para 60%, 70%, 80%, daqui para frente é indiferente, já não está mais competitivo. E nosso setor não aguenta esperar 90 dias para que uma solução racional entre as partes aconteça”, disse Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), em julho, poucas semanas após Trump anunciar a taxa de 50% aos produtos brasileiros.
Nem os pescados, nem as frutas foram contempladas na lista de exceções divulgada pelos EUA, que garante tarifa de 10% aos produtos que se safaram.
Apesar de a proporção do envio de “frutas e nozes não oleaginosas, frescas ou secas” aos EUA ser proporcionalmente menor (10,2% em 2024), alguns produtores do setor se dedicam especialmente ao país, como os de manga, por exemplo, que fazem nesta época do ano uma safra exclusiva para vender ao país norte-americano.
Desse modo, o setor vê dificuldade para redirecionar essa produção e aponta para demissões em decorrência do tarifaço.
O governo da Bahia elenca manga, uva e goiaba como alguns dos “insumos fundamentais para a sustentabilidade econômica de diversos municípios do interior baiano”.
A estimativa é de que o tarifaço deve levar a uma queda de 0,27% no PIB (Produto Interno Bruto) baiano, o equivalente a perda de R$ 1,3 bilhão, segundo o Observatório da Indústria do Estado da Bahia.
Além disso, cerca de 210 mil pessoas são empregadas pelos exportadores baianos que comercializam com os Estados Unidos, de acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.