Curiosidades

Árvore considerada quase extinta reaparece na Amazônia após 40 anos

Por décadas, eu acreditei que o pau-cravo, uma árvore nativa do Brasil com aroma marcante e madeira valorizada, estava quase extinto na Amazônia. Mas agora, graças a um esforço de conservação iniciado há mais de 15 anos, essa espécie que praticamente não se via mais voltou a florescer. A redescoberta aconteceu em Altamira, no Pará, dentro de uma área protegida pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

A espécie, também chamada de cravo do Maranhão, é considerada endêmica, e só existe no Brasil. Ela foi intensamente explorada durante os séculos XVIII e XIX, principalmente pelos atrativos da cascata aromática semelhante ao cravo-da-índia. A redução descontrolada acabou levando ao colapso populacional da árvore, e por muito tempo, havia apenas raros registros dela na natureza.

O reencontro com o pau-cravo aconteceu durante as ações do programa de preservação da Norte Energia, responsável pela usina. Desde então, 30 árvores adultas foram identificadas e preservadas, outras 11 transplantadas e mais de 150 mudas estão sendo cultivadas em viveiros.

Espécie rara

O pau-cravo tem uma história antiga com o Brasil. Durante o período colonial, sua madeira resistente e o cheiro adocicado chamavam atenção. Mas, como muitas espécies tropicais, acabou prejudicando a ganância humana. A árvore era cortada por completo apenas para extrair sua casca, o que impedia sua regeneração.

Com o passar dos anos, a ausência de novos exemplares acendeu o alerta entre ambientalistas. Em 2008, o pau-cravo entrou na Lista Nacional da Flora Ameaçada de Extinção, publicada pelo Ibama, com o status de “criticamente ameaçado”.

Desde então, o desafio tem sido não apenas preservar os poucos exemplares restantes, mas garantir que novas gerações da espécie possam crescer em segurança.

Esperança no coração da Amazônia

Uma reviravolta veio com o trabalho de reflorestamento da entrega Norte Energia. Roberto Silva, gerente da empresa, explica que desde 2014 uma equipe busca ativa exemplares do pau-cravo nas áreas preservadas.

“Atualmente temos 30 matrizes da espécie, de onde coletamos sementes para produção de mudas e plantio em áreas de restauração florestal”.

Lindomar da Silva Lima, um dos identificadores botânicos do projeto, não escondeu a emoção ao participar da descoberta.

“Fiquei muito alegre. A gente não conhecia, e agora temos mais conhecimento, mais consciência. Quero que ela multiplique, para nossos filhos, nossos netos verem. Vou contar essa história para eles. Que cresçam sabendo o valor de preservação”, disse com brilho nos olhos.

O futuro da árvore

Com a presença confirmada de adultos exemplares e novos atuando sendo cuidados com atenção, o pau-cravo agora se torna símbolo de como a natureza pode resistir e se recuperar quando há esforço coletivo e planejamento de longo prazo. A redescoberta também reacende o interesse científico.

Estudos coordenados pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por meio do Centro Nacional de Conservação da Flora, buscam agora entender melhor o comportamento da espécie e suas possibilidades de reintrodução em outras áreas da Amazônia.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo