Como o “Jesus Russo” enganou milhares e acabou na cadeia
Sergei Torop, ex-policial que liderava seita com milhares de fiéis na Sibéria, foi considerado culpado por violência psicológica, danos à saúde e prejuízos

O líder religioso russo Sergei Torop, conhecido como “Vissarion” e autoproclamado reencarnação de Jesus Cristo, foi condenado, nesta semana, a 12 anos de prisão em um campo de trabalhos forçados na Rússia. Segundo a Justiça local, ele causou violência psicológica, danos à saúde e prejuízos financeiros a seus seguidores por meio de uma seita fundada no início dos anos 1990.
Torop liderava a chamada Igreja do Último Testamento, comunidade criada após seu “despertar espiritual” em 1990. Antes disso, ele atuava como guarda de trânsito na Sibéria. Desempregado com a queda da União Soviética, começou a pregar como Vissarion em 1991, incorporando elementos da ortodoxia russa, do budismo, do taoísmo e do ambientalismo.
Para os seguidores, o nascimento de Vissarion marcou o início de uma nova era. A data de seu aniversário, 14 de janeiro, substituiu o Natal como principal celebração da seita, e o ano vigente não seria 2025, mas sim 64, em referência a 1961, seu ano de nascimento.

A seita era baseada em uma comunidade isolada no meio da taiga siberiana, batizada de Morada do Amanhecer. Ali, os adeptos levavam uma vida simples: moravam em cabanas de madeira, praticavam o veganismo, evitavam bebidas alcoólicas e cigarros, rejeitavam o uso de dinheiro e seguiam um estilo de vida modesto. Havia ainda uma escola e um jardim de infância dentro da comunidade, frequentada por filhos dos fiéis.
Segundo investigações da procuradoria russa, pelo menos 16 pessoas sofreram danos morais sob a liderança de Vissarion, seis delas com lesões graves à saúde e uma com danos moderados. Os fiéis, além de trabalhar de forma gratuita, teriam sido levados a doar bens e dinheiro à seita. Outros dois líderes do grupo, Vadim Redkin e Vladimir Vedernikov, também foram condenados a penas entre 11 e 12 anos.
Durante o auge da seita, Vissarion chegou a atrair milhares de seguidores da Rússia e de outros países, incluindo médicos, professores, militares e ex-autoridades da Bielorrússia. O culto ganhou notoriedade internacional, especialmente após a cobertura de veículos como BBC, The Guardian, Daily Mail e The New York Times.
Uma das práticas mais controversas do grupo era a chamada “escola para nobres donzelas”, onde meninas seriam preparadas para se tornarem futuras esposas de membros considerados “merecedores”. Vissarion também foi acusado de abandonar a primeira esposa para se casar com uma jovem que convivia com ele desde os sete anos de idade.
O líder foi preso em 2020. Imagens de cordas e uma suposta carta de suicídio foram divulgadas como indícios dos abusos cometidos na comunidade.