O torcedor do Fluminense que viaja aos EUA para acompanhar o time
Radicado em Brasília desde 1989, João Venancio Cysne, sobrinho de um dos pioneiros da capital, conta ao Correio como cedeu ao pecado da inveja provocado por rubro-negros e rumou aos EUA para viver o sonho de ver o Fluminense avançar às quartas

Ser tricolor de coração nunca foi um prazer tão grande para João Venancio Cysne como na vitória de segunda-feira do Fluminense por 2 x 0 contra a Internazionale pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes. O carioca radicado em Brasília desde 1989 não tinha planos de vir aos Estados Unidos, mas cedeu ao pecado da invejinha dos amigos e arrastou a família de uma hora para a outra ao país-sede do novo torneio da Fifa.
Era 20 de junho, feriado de Corpus Christi, quando João Venancio decidiu configurar o próprio pacote de viagem. Estava em cima da hora para assistir à estreia contra o Borussia Dortmund e ao segundo jogo diante do Ulsan da Coreia do Sul. A excursão começou em Miami, no empate por 0 x 0 com o Mamelodi Sundowns da África do Sul.

“Eu disse que assistiria ao torneio no Rio de Janeiro. Aí, comecei a ver os meus amigos chegando em Nova York e fui provocado por um casal amigo de flamenguistas. Comprei a passagem na hora para Miami. Depois, o restante da família começou a adquirir bilhetes também e éramos seis em Charlotte testemunhando a classificação do Fluminense. Eu, a minha esposa Sheila, dois filhos, mariana e João Venancio, meu genro Bruno e o neto, Pietro”, conta o líder da caravana em entrevista.
João Venancio sofreu sozinho no empate por 0 x 0 com o Mamelodi Sundowns. “Graças a Deus, o Renato Gaúcho fez um jogo tático muito inteligente e nós passamos de fase. Fiquei aliviado”. O resultado deu tranquilidade para receber o restante da família. “Eles chegaram depois para a partida das oitavas de final. Agora, rumo a Orlando para as quartas e vou encontrar o meu irmão que mora em New Jersey nas semifinais e na final”, projeta.
Falar sobre a classificação no Bank of America Stadium, no calor de 32ºC de Charlotte, emociona João Venancio. “Já tive muita emoção na minha vida, em 1969, 1970, gol de Mickey no Brasileiro, o gol de barriga (do Renato Gaúcho no Carioca de 1995), o do John Kennedy na Libertadores. Vivi todos esses momentos, mas esse foi especial: meu time venceu nos Estados Unidos nas oitavas. Que seja assim até o fim”, emociona-se.
Em vez de acalmá-lo, o gol de Germán Cano no início da partida deixou João Venancio ainda mais apreensivo no estádio e o levou a invocar ídolos do passado, como o histórico goleiro Carlos Castilho, que dá nome ao Centro de Treinamento do Fluminense.

“O primeiro gol acendeu aquela alegria tricolor, mas eu vou dizer o seguinte para você: temos o Santo Castilho e o Santo Fábio agora. Santo Paulo Victor também. Agora, o Fábio foi um cara injustiçado nas convocações da Seleção”, desabafa, em defesa do novo ídolo.
Enquanto Fábio protagonizava milagres no duelo à parte com Lautaro Martínez, o segundo gol caiu do céu nos pés do volante contratado no início do ano por R$ 29 milhões. “Como diz o Nelson Rodrigues, o Fluminense nasceu para a glória. No fim, o Hércules fez o gol. Foi só explosão, uma coisa muito linda testemunhar essa vitória aqui em Charlotte”.
Quem vê a cara de João Venancio nos EUA, não viu o coração dele em uma outra expedição. “Em 1999, eu segui o Fluminense na campanha na Série C. Fui aos jogos em Anápolis, Goiânia, no Espírito Santos, em Brasília contra o Dom Pedro…”. O Fluminense conquistou o título da terceira divisão naquele ano sob o comando de Carlos Alberto Parreira.
Raízes
João Venancio é sócio-benemérito do Fluminense. Herdou o título do tio-avô Antonio Venancio da Silva, um dos pioneiros da capital do país no governo do presidente Juscelino Kubitschek. O empresário cearense trocou o Rio de Janeiro por Brasília à época e construiu, entre outras obras históricas da cidade, o Edifício Ceará e os centros empresariais Venancio 2000, no Setor Comercial Sul, e 3000, no Setor Comercial Norte, atual ID.

O amor pelo Fluminense veio do sangue do pai. Francisco de Assis Cysne também tem o DNA tricolor e o nome imortalizado na sede das Laranjeiras como sócio-histórico. João Venancio foi convencido de mudar-se para Brasília em 1989 pelo tio, José Nicodemos Venancio. “Meu tio-avô Antonio Venancio é um pioneiro de Brasília e fui trabalhar com ele”. Enraizou-se na cidade e hoje é um dos proprietários da clínica de imagem Village.
Brasília é a residência fixa, mas o Rio e o Fluminense são a praia dele e não abandona as raízes. “Estou sempre lá. Sou tricolor desde 1963. Meu primeiro título foi em 1964 ao lado do meu tio Antonio, e do meu pai. Fui fundador da torcida organizada Força Flu, joguei no Dente de Leite do Fluminense, com o Edinho tanto na praia como no campo do Fluminense, mas segui a minha carreira de engenheiro civil. Sou um tricolor muito feliz. Agora, ainda mais! Desculpa, mas a emoção ainda está forte”, despediu-se.