Ritmo símbolo do Amapá, Marabaixo é protagonista de projeto sobre música da Amazônia
Comandado pelo DJ Zek Picoteiro, série de podcast Afluentes investiga a diversidade de ritmos forjados na beira dos rios da região

O ritmo mais emblemático do Amapá é o protagonista do novo episódio de podcast da série Afluentes, projeto idealizado pelo DJ, produtor e pesquisador musical Zek Picoteiro.
Disponível nas plataformas digitais e no site oficial do projeto, o episódio mergulha no universo do Marabaixo – manifestação afro-amazônica que resiste ao tempo com seus tambores, danças e poesias – e revela a força de uma cultura que pulsa em quilombos, barracões e memórias ancestrais.
O projeto é uma expedição sonora e cultural que percorre o rio Amazonas e seus principais afluentes, como o Tapajós e o Guamá, para mapear a diversidade musical da região que, de acordo com a catalogação de Zek, concentra mais de 40 gêneros musicais.

Ao longo de seis episódios, Zek navega por comunidades ribeirinhas documentando gêneros como Carimbó, Beiradão, Boi Bumbá, Tecnobrega, Lambada e Marabaixo.
Além disso, o projeto se desdobra em vídeos e um site interativo com mapa da bacia amazônica que funciona como repositório digital de saberes, artistas e movimentos culturais da região.
No novo episódio do podcast, o segundo da série, Zek embarca em uma jornada afetiva e política pelo Amapá. Em Macapá, ele reencontra suas raízes familiares e se conecta com o movimento preto organizado, vivenciando de perto a espiritualidade e a resistência do Marabaixo.
“Quem quiser conhecer a história preta amazônica precisa conhecer o Marabaixo. Esse episódio revela mais que um ritmo: apresenta uma forma de viver, resistir e celebrar a negritude na Amazônia”, afirma o artista.
Gravado em comunidades como o Quilombo do Curiaú, o episódio dá voz a mestres e mestras do saber popular, como Pedro Bolão, artesão que transforma madeira em caixas de Marabaixo – os tambores que contam histórias de luta, fé e pertencimento. Os tradicionais “ladrões”, cânticos poéticos entoados nos barracões, surgem como narrativas orais vivas da resistência negra na região.
Com produção do Instituto Regatão Amazônia, o projeto foi contemplado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Música, com apoio da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Ministério da Cultura e Governo Federal.

Rios sonoros
Os rios são a principal forma de circulação e integração cultural, é através deles que a identidade amazônica é formada na sua mais profunda essência. É por meio deles que os povos navegam, escoam sua produção, pescam seu principal alimento, banham, constituem seus saberes, tradições e culturas.
A série busca compreender como os gêneros e movimentos musicais se organizam na Amazônia – e a relação com o rio é o ponto em comum a todos eles. Para Zek, a música da região é criada, inspirada, ouvida e difundida pelo rio.
“Cada gênero musical é como se fosse um braço, um furo, uma fonte, um olho d’água, uma ilha… um afluente dessa enorme ‘bacia hidromusical’ que existe aqui na Amazônia. Para entender melhor essa relação, eu decidi navegar pelos nossos rios e encontrar pessoas que fazem a nossa música acontecer”, diz.
Com mais de uma década de atuação na cena cultural da Amazônia, Zek Picoteiro é reconhecido por seu trabalho na valorização da cultura ribeirinha e da música periférica da região. Como DJ, se apresentou em festivais como Rock in Rio e Boiler Room, e foi curador de iniciativas como o Edital Natura Musical e o Festival de Tecnobrega e Aparelhagem.
Premiado pelo Megafone de Ativismo com a música “Brasil do Cocar”, também ministra oficinas e palestras sobre a história da música amazônica, reforçando seu compromisso com a formação e o fortalecimento da produção cultural local.
Serviço
Projeto Afluentes disponível nas plataformas digitais e em: www.regatao.org/afluentes