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Em meio à COP30, Brasil põe em risco protagonismo ao lidar com contradições ambientais

Desmatamento e discussão sobre possível exploração de petróleo na Amazônia podem gerar efeito contrário na influência global

A agenda ambiental da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que será sediada em Belém em novembro, abre oportunidades para a retomada do protagonismo do Brasil sobre a redução de impactos ecológicos.

Entretanto, os índices de desmatamento e a discussão sobre a possível exploração de petróleo na Amazônia podem pôr em risco a capacidade do país em dar andamento e influenciar os demais países para o cumprimento das metas da conferência, apontam especialistas.

A professora de Relações Internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Cristina Pecequilo entende que existem contradições entre as metas estabelecidas pelo Brasil na COP e o andamento de discussões ambientais no país.

A especialista entende que a realização da COP30 é importante para o país, porém, nem todas as expectativas serão cumpridas na reunião.

Cristina aponta que as dificuldades para o cumprimento das metas serão geradas, principalmente, pelas dificuldades econômicas do sistema internacional e pela forma que o Brasil lida com grupos que exploram ilegalmente o meio ambiente no país.

Além disso, a tensão entre os Estados Unidos e China também deve causar interferências no andamento dos objetivos.

“Existem contradições, mas, ao mesmo tempo, o Brasil não pode renunciar a seu desenvolvimento sustentável. Há muito mito sobre essa questão de exploração do petróleo na região equatorial. Não é exatamente na Amazônia. Mas eu até me preocuparia menos com isso e mais, realmente, com a questão da degradação dos biomas de uma maneira geral. Embora o governo Lula tenha um compromisso ambiental mais declarado, os esforços têm sido dificultado pela resistência de setores econômicos”, comentou Pecequilo.

Em quase dois anos, por exemplo, a degradação florestal na Amazônia saltou de 7.925 km² para 34.013 km² – aumento de 329% -, segundo uma pesquisa do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que considera os períodos de agosto de 2023 a março de 2024 e agosto de 2024 a março de 2025. O resultado é o maior da série histórica, iniciada em 2008.

Para o cientista político do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro, o Brasil não está lidando da melhor forma com a preparação da COP30, principalmente, no que se diz respeito as dificuldades de infraestrutura para o evento e temas ambientais.

O especialista aponta ainda faltam nas lideranças brasileiras uma maior sensibilidade com temas relacionados ao ambiente, em essencial, devido aos fenômenos climáticos extremos notificados no país em 2024, como as enchentes no Rio Grande do Sul e seca na Amazônia.

Exploração na Amazônia

Em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a autorização por parte do Ibama para a Petrobras poder perfurar poços em busca de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial. Apesar do potencial da região, a exploração é criticada pelos ambientalistas.

“Nós precisamos autorizar que a Petrobras faça pesquisa. Se depois a gente vai explorar, é outra discussão. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo. Nós queremos que o governo diga qual é a vontade”, discursou.

Lula ainda definiu a Petrobras como uma empresa responsável: “Nós vamos cumprir todos os ritos necessários para não causar nenhum estrago na natureza”.

Aqueles que são favoráveis à iniciativa recorrem aos possíveis ganhos econômicos da empreitada. Ainda não se sabe o potencial exato da região, mas o Ministério de Minas e Energia estima reservas de 10 bilhões de barris de petróleo, com geração de 350 mil empregos.

A área tem sido chamada de “novo pré-sal”. Sem a exploração, a Petrobras calcula que o Brasil pode voltar a depender do petróleo estrangeiro em cerca de 10 anos. O pedido de licença da estatal foi feito em 2013 – ou seja, a discussão se arrasta há mais de 20 anos.

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