O papa favorito dos ateus? Como influência de Francisco foi além do catolicismo
Segundo pesquisador, ateus formam um grupo em geral progressista, que não é preso a ideias da tradição - e essa visão dialogou com a abertura da Igreja comandada pelo pontífice

Em um dos vídeos emocionantes que agora estão marcados na história do seu pontificado, o papa Francisco consola um menino de 12 anos angustiado ao pensar sobre a vida pós-morte de seu pai, um homem ateu.
“Deus tem o coração de um pai. E diante de um pai, não crente, que foi capaz de batizar seus filhos e dar essa bravura aos seus filhos, vocês acham que Deus seria capaz de deixá-lo longe?”, disse então Francisco.
O episódio em 2018 seria apenas um dos vários em que o papa deu mostras de que encarava o ateísmo (ou a negação da existência de um Deus) com certa naturalidade – ou ao menos longe de uma visão mais condenatória da Igreja em relação aos não crentes.
O caminho traçado por Francisco foi bem diferente daquele criado por seu antecessor, o papa Bento 16, que chegou a associar ateus aos nazistas.
Numa missa na Escócia em 2010, ao relembrar a Segunda Guerra Mundial, o então papa disse que a tirania nazista foi um “extremismo ateísta do século 20”, ressaltando que a falta da crença em Deus leva “em última instância a uma visão truncada do homem e da sociedade”.
Naquele mesmo ano de 2010, Francisco, ainda como Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, dizia no recém-lançado livro Sobre o Céu e a Terra que ele não perguntava se uma pessoa acreditava ou não em Deus.
O importante, dizia, era saber se seu interlocutor “fazia algo pelos demais” – uma ideia que ganharia manchetes pelo mundo anos mais tarde quando sugeriu em declarações que era melhor uma pessoa ser ateia do que ser uma católica que ia à missa, mas nutria ódio pelos outros.
A visão distinta de Francisco, que propôs uma Igreja mais aberta e em diálogo com vários setores da sociedade, fez o papa ser visto ao longo dos anos positivamente pelos não católicos, segundo pesquisas feita principalmente nos Estados Unidos.
Na última pesquisa publicada pelo centro de pesquisas americano Pew Research Center, que acompanhou ao longo dos anos a popularidade de Francisco nos EUA, 56% das pessoas sem afiliação religiosa tinham uma visão favorável do papa, uma aprovação maior, inclusive, do que entre os protestantes (51%).
Esse grupo inclui ateus, agnósticos (aqueles que acreditam não ser possível determinar a existência ou inexistência de Deus) e os que não se incluíam nesses grupos, mas se consideravam sem fé.
Assim que o papa assumiu o Vaticano, em 2013, a visão positiva entre essa parcela era apenas de 39% — e o máximo da popularidade dele foi em 2017, quando 71% dos sem filiação religiosa responderam que tinham uma visão favorável de Francisco, segundo o Pew.
Numa pesquisa global de 2015, da WIN/Gallup International, 51% dos ateus e agnósticos enxergavam o papa de forma positiva.