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Rússia e EUA vivem impasse nuclear desde o início da guerra na Ucrânia

Com o tratado New START suspenso e a guerra na Ucrânia em curso, cresce o temor de uma nova corrida armamentista entre EUA e Rússia

Desde que tropas russas invadiram a Ucrânia, em fevereiro de 2022, o mundo viu renascer temores que pareciam sepultados com o fim da Guerra Fria. O diálogo entre as duas maiores potências nucleares do planeta – Estados Unidos e Rússia – foi congelado, e o cenário atual é de colapso nos principais acordos de controle de armas.

No centro dessa crise, está o tratado New START, último pacto vigente de limitação de arsenais estratégicos, cuja validade expira em 2026 e que, até agora, não tem substituto à vista.

Além da escalada entre Washington e Moscou, a guerra reacendeu um debate delicado na própria Ucrânia. O país, que renunciou voluntariamente ao terceiro maior arsenal nuclear do mundo em 1994, avalia hoje se foi um erro confiar nas garantias de segurança prometidas no Memorando de Budapeste — e descumpridas na prática.


Entenda o tratado New START

  • Assinado em 2010, entre EUA e Rússia, durante os governos de Barack Obama e Dmitry Medvedev.
  • Limita o número de ogivas nucleares estratégicas a 1.550 por país.
  • Restringe o número de mísseis e bombardeiros e estabelece inspeções recíprocas para garantir a transparência.
  • Suspenso unilateralmente pela Rússia em 2023, com alegações de que as inspeções poderiam favorecer espionagem militar.
  • Expira em 2026, sem, até agora, sinais de renovação ou novo tratado substituto.

Moscou quer multilateralismo nos acordos

O fim do tratado New START não deixou somente um vazio diplomático entre Washington e Moscou, como também gerou uma nova proposta russa: internacionalizar os acordos de controle nuclear. O governo de Vladimir Putin passou a defender que futuras negociações incluam não só os Estados Unidos e a Rússia, mas outras potências nucleares como China, França e Reino Unido.Play Video

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que para existir chances de negociações sobre controle de armas nucleares com os EUA, outras potências devem ser consideradas. “Só podemos discutir tudo como um todo”, afirmou.

Para o governo russo, esse movimento é justificado pela “nova ordem multipolar” e pelo crescimento dos arsenais de países fora do eixo tradicional da Guerra Fria. Na prática, no entanto, a proposta é vista por analistas como uma forma de adiar o foco sobre a responsabilidade direta de Moscou e dos EUA, que ainda detêm mais de 90% das ogivas nucleares do planeta.

Especialistas alertam para uma reação “preocupante” dos EUA sob a nova gestão de Trump em meio a possíveis diálogos sobre o armamento nuclear, devido a sua posição “altamente instável”. Com isso, a política norte-americana deixou de ser previsível.

“Os movimentos de Trump na arena internacional são parcialmente erráticos, imprevisíveis, aumenta as incertezas financeiras, políticas e militares e reduzem o diálogo. Atiram gasolina no mundo e criam faíscas”, afirma o professor Carlos Eduardo Martins, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ.

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