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Mortes por covid: lições precisam ser consideradas

Bastaram duas semanas da chegada do Sars-CoV-2 ao Brasil para que seu potencial devastador, já sentido na Ásia e na Europa, se manifestasse. Em 12 de março de 2020, morria a primeira vítima da covid-19 no país. O segundo óbito viria três dias depois. Mais três mortes, todas em São Paulo, no dia 15. Logo em seguida, o Rio de Janeiro registrava seus dois primeiros casos, que foram somados a outros dois em terras paulistas.

Daí em diante, o novo coronavírus foi ceifando vidas pelo país, costurando um dos piores cenários da crise sanitária que parou o mundo há cinco anos.

Naquele 12 de março, quando uma mulher de 57 anos morreu ao dar entrada em um hospital público em Tatuapé, 114 países já tinham casos confirmados da doença. Eram 118 mil e 4,2 mil mortes, segundo a OMS. Um mês depois, só no Brasil, sucumbiam à covid mais de 2 mil pessoas por dia.

No auge da crise, em abril de 2021, o Ministério da Saúde tentava frear a sufocante média de 3,1 mil óbitos a cada 24 horas. O uso de tratamentos sem eficácia, a disseminação de fake news, o desincentivo à vacinação e a falta de articulação entre as esferas de governo estão entre os fatores que levaram à situação caótica.

Alguns seguem contaminando decisões pessoais e governamentais pelo país, matando sobretudo os mais vulneráveis. Se não, o que justifica, quatro anos depois, o Brasil ter enfrentado a pior crise de dengue da história? Fala-se em “tempestade perfeita” para explicar a explosão da doença – também uma zoonose.

Ocorreu uma espécie de combinação incomum dos efeitos da crise climática, da circulação simultânea de vários subtipos do vírus, da adaptação genética do mosquito, que se tornou mais resistente, e da falta de vacina. Mas entram nessa conta falhas gravíssimas de gestão pública. 

Um aumento, de um ano para outro, de 400% dos casos de uma doença cuja primeira epidemia ocorreu há mais de 40 anos só ocorre quando não se prioriza monitoramento e vigilância.

Não à toa, a queda significativa dos números de casos de dengue em 2025 tem entre as justificativas a contratação de agentes de vigilância, a instauração antecipada de centros de emergência e o adiantamento de campanhas educativas – todas medidas com efeitos sustentados pela ciência e adotadas em âmbitos federal, estadual e municipal.

Também falta superar o movimento antivacina. Ainda que não haja dúvidas de que a entrada das fórmulas protetivas virou o capítulo da pandemia de covid-19 no mundo, o Brasil sequer chegou à cobertura vacinal de 25% da população elegível às doses de reforço.

E vale lembrar: o coronavírus segue matando. Só neste ano, até o último dia 25, o governo federal contabilizou 664 óbitos. Bem menos do que o mesmo período em 2024, quando houve 1.536 registos, mas não deixa de ser um número alto, em se tratando de uma doença que pode ser evitada e enfraquecida pela imunização. 

Daquele 12 de março a 25 de fevereiro de 2025, são 715.261 mortes por covid no país. Gente que teve o perfil traçado ao longo dos anos, evidenciando o impacto das desigualdades na saúde da população brasileira.

Negros, moradores de áreas periféricas e desabonados representam a maioria das vítimas, assim como ocorreu na mais recente epidemia de dengue. Repetições de tragédias sanitárias não são razoáveis em um país reconhecido pela expertise em estratégias preventivas e pela qualidade dos seus profissionais de saúde.

Não se normalizam mortes evitáveis, sob o risco de se ultrapassar, inclusive, dilemas éticos.

Passou da hora de o Brasil considerar as lições fatais da pandemia.

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