Chuvas podem ter impactado no rompimento de barragem de garimpo ilegal no rio Cupixi, no AP
Enxurrada de lama atingiu os rios Amapari, Cupixi e Araguari, afetando o meio ambiente e moradores de diversos municípios
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Por Marcelo Beijamim
O rompimento de uma barragem de garimpo ilegal, na última terça-feira (11), no município Pedra Branca do Amapari, no Amapá, causou um grave impacto ambiental nos rios Amapari, Cupixi e Araguari, por conta do grande volume de lama, possivelmente contaminada por rejeitos da mineração clandestina, que atingiu o leito dos rios após o incidente.
As primeiras informações divulgadas e compartilhadas primeiramente nas redes sociais na última terça-feira (11), afirmavam que a barragem havia se rompido no mesmo dia em que os vídeos começaram a circular; mas segundo moradores que vivem as margens do rio Cupixi, segundo rio atingido pela lama, relataram que a mudança de coloração da água começou um dia antes.
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Ribeirinhos relataram que na segunda-feira (10), a água estava normal pela manhã, mas no período da tarde, a cor do rio começou a mudar, ficando bastante barrenta.
O morador Raimundo Pereira, que reside a mais de 30 anos no local afetado pela lama, diz que o caso é sério e que o acidente afetou diretamente as atividades da região.
“Esse acidente afetou direto as nossas atividades aqui na região das margens do rio Cupixi. Ele alimenta uns 50 a 60% da nossa vila, e nossa alimentação vem do rio. O pessoal que mora nas margens do rio, geralmente vive da atividade pesqueira, além das roças e outras coisas, nas margens do rio. Todos os moradores dependem do rio, então, todos nós aqui vamos sofrer o impacto desse acidente”, afirma o morador.
De acordo com imagens de satélite do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC- mostram que todo o estado do Amapá foi atingido por fortes chuvas dias antes do acidente, característico do inverno amazônico durante esse início do ano. Esse excesso de chuvas na região pode ter colapsado a barragem ilegal.
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Segundo o professor de química, Mateus Matos, quando metais pesados entram em contato com rios e lagos, ele passa por biotransformações através de microrganismos, assumindo uma nova forma que intensifica a capacidade de contaminação em seres vivos e animais que tiveram contato com a água contaminada.
“Quando ocorre a precipitação do metal, ele acaba contaminando o solo e, posteriormente, a vegetação que se desenvolverá naquele local. Também se infiltra no solo, contaminando os lençóis freáticos”, complementa Mateus.
De acordo com a Defesa Civil do Amapá, até o momento, 4 mil pessoas foram afetadas diretamente pelo rompimento da barragem.
Em nota, o Governo do Amapá disse que adotou medidas emergenciais para reduzir impactos do rompimento da barreira de garimpo ilegal. Além de garantir o abastecimento de água potável para a população das áreas afetadas.
A Polícia Científica do Amapá (PCA), realizou na sexta-feira (14), perícias ambientas no rio Cupixi, com coleta e análise de água em Pedra Branca do Amapari. A equipe do PCA afirmou que devem voltar ao local para mais análises e que o resultado do laudo ainda não tem data para sair.
A Polícia Civil (PC) esteve no local para investigar a causa e os possíveis responsáveis pelo dano ambiental provocado a flora, fauna e aos moradores.
Também estiveram no local os representantes das secretárias de Meio Ambiente (Sema), Saúde (Sesa), Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Assistência Social (Seas), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Civil, Polícia Científica e Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) e da Agência Nacional de Mineração (ANM).
O Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), reconheceu a situação de emergência nos municípios afetados por rompimento de barragem. São esses: Pedra Branca do Amapari, Porto Grande, Ferreira Gomes e Cutias do Araguari, todos no estado do Amapá.
A portaria com o reconhecimento foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) e agora as prefeituras já podem solicitar recursos do Governo Federal para ações de defesa civil.