Enfraquecido, governo apanha até de aliados
Com 2026 às portas, presidente do PSD dispara contra gestão petista, que tenta reverter a queda de popularidade de Lula para torná-lo viável à recondução
A um ano e nove meses das eleições de 2026, o pleito já precifica os acordos políticos em Brasília e dita o ritmo das relações entre o governo federal, o Congresso e os estados. Para chegar às urnas com força política, o Planalto precisará estar de bem com o Parlamento. E isso significará dar mais espaço ao Centrão na Esplanada dos Ministérios.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, deixou de lado o fato de o partido integrar a gestão petista e abriu artilharia, nesta quarta-feira, contra o Planalto. O ataque ocorre em meio ao enfraquecimento do governo, à crise econômica e à queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Kassab afirmou que “o PT não estaria na condição de favorito, mas na condição de derrotado” para 2026. “Não vejo uma articulação para reverter essa tendência de piora no cenário. Não vejo nenhuma marca boa, como teve FHC e o Lula nos primeiros mandatos”, disparou, durante um evento privado de investimentos financeiros.
Ele também afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “fraco”. “Hoje, o que a gente vê é uma dificuldade de o ministro Haddad comandar. Não consegue se impor no governo. Ministro da Fazenda fraco é sempre um péssimo indicativo”, destacou.
A ofensiva não é sem motivo. Experiente, Kassab, que não tem motivos para desembarcar do governo, tenta pressionar o Planalto a lhe dar mais poder na Esplanada, pensando em 2026. Essas conversas começaram ainda em 2024. Seu partido tem, hoje, os comandos dos ministérios de Minas e Energia (Alexandre Silveira), da Agricultura (Carlos Fávaro) e da Pesca (André de Paula).
Preço
A sigla tem ainda Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atual presidente do Senado, que se aproximou do governo Lula nos últimos meses e é cotado para assumir uma pasta na reforma ministerial. Com as últimas pesquisas indicando uma queda na popularidade do governo Lula, é natural que partidos que compõem o governo queiram aumentar o preço para seguir ao lado do Executivo.
Do lado do governo, sem uma alternativa forte para bater a direita, ministros sustentam a força de Lula para ir às urnas. As declarações sobre o assunto começaram a pipocar na imprensa no mesmo momento em que o governo passa por uma reformulação de comunicação nas redes sociais depois da chegada do marqueteiro Sidônio Palmeira à Secretaria de Comunicação Social (Secom).
As redes de Lula e de seus aliados já entraram em clima de campanha. São comuns, agora, vídeos do presidente interagindo com a população e sendo felicitado pelos feitos da atual gestão e de seus governos anteriores.
Possível alvo em uma reforma ministerial, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse ter “certeza absoluta de que o presidente Lula vai chegar em 2026 com saúde e apetite para defender da melhor forma este governo, e a melhor forma de defender o governo é ser candidato à reeleição. Ele é o melhor para fazer isso”, destacou.
A idade de Lula, que fará 81 anos em 2026, sempre foi um empecilho nas conversas sobre uma eventual disputa à reeleição desde que ele assumiu o governo. Como não surgiram alternativas com força eleitoral, ele se apresenta como uma escolha óbvia.
Direita indefinida
Da parte da direita, os principais nomes também começam a se esforçar para aparecer mais. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem comprado brigas públicas com o Executivo federal nas últimas semanas sobre a questão da dívida dos estados (Minas é um dos maiores devedores da União). Na terça-feira, ele disse que ainda não sabe se será candidato à Presidência em 2026.
Zema aproveitou, no entanto, para reforçar seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está fora da disputa. Ele foi declarado inelegível em dois processos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023. Precisaria conseguir a anulação em ambos os casos para voltar ao páreo.
O movimento de Zema é estratégico, porque quem quer que seja o candidato da direita terá de ter a bênção de Bolsonaro para chegar ao pleito com força capaz de se equiparar a Lula.
“Eu espero que ele vença essa batalha (para reverter a inelegibilidade). Não há, me parece, segundo as pesquisas, nenhum nome que supere o dele em termos de chances de ganhar da esquerda. Então espero que haja uma reversão”, afirmou.