Cientistas mapeiam efeitos das “canetas emagrecedoras” no corpo
Com base em dados de 2,4 milhões de pacientes com diabetes, pesquisador mapeia a ação dos análogos ao hormônio GLP-1, como a substância semaglutida, e sugere benefícios além da perda de peso. Porém, também há riscos relatados
Aprovados em 2017 originalmente para tratar diabetes 2, medicamentos análogos ao hormônio GLP-1 – as famosas “canetinhas que emagrecem” – passaram a ser usados no combate à obesidade e, desde então, mostraram-se promissores para diversas condições.
Um estudo publicado na revista Nature Medicine baseado em pesquisas anteriores constatou que, por enquanto, remédios dessa classe podem reduzir o risco de 42 problemas de saúde. Porém, os pesquisadores também encontraram 19 intercorrências. As descobertas baseiam-se em dados de 2,4 milhões de usuários.
Os estudos incluídos pela equipe da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, são observacionais, ou seja, não estabelecem uma relação de causa e efeito. Porém, os autores ressaltam que o tamanho da amostra e a quantidade de pesquisas de qualidade usadas na revisão sustentam as conclusões, que devem ser validadas por mais investigações.
Em uma coletiva de imprensa transmitida on-line, os autores justificaram o interesse nessas drogas devido à popularidade entre pacientes, médicos e mídia.
“Dada a novidade e a popularidade crescente dos medicamentos, é importante examinar sistematicamente seus efeitos em todos os sistemas do corpo – sem deixar pedra sobre pedra – para entender o que eles fazem e o que não fazem”, disse o autor senior do estudo, Ziyad Al-Aly, epidemiologista no John J. Cochran Veterans Hospital.
Mapeamento
Segundo Al-Aly, a abordagem permitiu construir um “atlas abrangente”, mapeando as associações do GLP-1 com todos os sistemas orgânicos. “Os resultados do estudo fornecem visões sobre alguns benefícios e riscos conhecidos e não reconhecidos anteriormente do GLP-1 que podem ser úteis para informar o tratamento clínico e orientar as agendas de pesquisa”.
Para o estudo, a equipe avaliou prontuários médicos de pacientes tratados para diabetes entre 1º de outubro de 2017 a 31 de dezembro de 2023. Os pesquisadores compararam as informações de saúde daqueles que utilizaram os GLP-1 com as dos medicados com drogas mais tradicionais.
De forma geral, os medicamentos análogos ao hormônio GLP-1 foram associados a benefícios significativos para a saúde neurológica e comportamental, com riscos reduzidos de convulsões e dependência de substâncias como álcool, cannabis, estimulantes e opioides.
Pessoas que tomaram esses remédios para perda de peso também apresentaram menos probabilidade de ideação suicida, automutilação, bulimia e transtornos psicóticos, como esquizofrenia.