Séries de massacres escancaram o terror das gangues que comandam o Haiti
Crise de violência no país mostra total falta de controle das autoridades; ataques deixaram mais de 350 mortos em 2024; maior hospital público foi alvo na véspera das festas
A chegada de mais 150 policiais estrangeiros ao Haiti, no primeiro fim de semana de janeiro, ampliou a força internacional de segurança encarregada de combater as gangues poderosas e bem armadas que há meses vêm tocando o terror no país – mas, a julgar pelo histórico local, é pouco provável que eles façam alguma diferença.
Os massacres contínuos que mataram mais de 350 pessoas, cometidos depois do ataque ao maior hospital público do país, na véspera do Natal, escancaram a total falta de controle das autoridades sobre a crise profunda em que se vê a nação.
A coletiva que anunciaria a reabertura de um hospital público, fechado há nove meses pela brutalidade das facções, também sofreu um ataque, resultando em um policial e dois repórteres mortos.
Pelo menos outros 25 tiveram de esperar duas horas por resgate enquanto protegiam sete colegas feridos, rasgando pedaços das próprias roupas para improvisar torniquetes e tampões de estanque das hemorragias, porque, segundo testemunhas, os poucos médicos presentes fugiram para tentar se salvar. Alguns jornalistas conseguiram escapar escalando um muro nos fundos.
“O chão e nossas roupas ficaram cobertos de sangue. O hospital não tinha nada para tratar das vítimas”, contou Jephte Bazil, do portal de notícias on-line Machann Zen Haïti.
Antes dessa investida, outras duas chacinas em diferentes partes do país deixaram mais de 350 mortos e evidenciaram as falhas e os problemas das autoridades locais e da força-tarefa internacional encarregadas de proteger os civis inocentes. Uma delas, em dezembro, foi perpetrada em uma área ampla e pobre de Porto Príncipe, onde a falta de policiamento permitiu que inúmeros idosos fossem mortos, esquartejados e jogados no mar sem o conhecimento das autoridades.
Segundo a ONU, pelo menos 207 foram assassinados entre os dias 6 e 11. A outra, mais ou menos na mesma época, durou três dias, e foi cometida a pouco mais de 110 quilômetros ao norte, em Petite Rivière. Segundo os líderes comunitários, 150 foram mortos no confronto entre membros das gangues e grupos de justiceiros.
As três ocorrências fazem parte da mortandade implacável que toma conta do Haiti há dois meses, expondo a fragilidade do governo interino, pondo em dúvida a viabilidade da missão de segurança intermediada pelos EUA e deixando a transição rumo às eleições e a uma liderança mais estável à beira de um colapso. De fato, com Donald Trump prestes a assumir o controle de uma empreitada internacional subfinanciada e considerada ineficiente, o futuro do Haiti nunca pareceu tão sombrio.
Para o ministro da Justiça, Patrick Pelissier, os 150 novos soldados, na maioria guatemaltecos, podem ajudar a mudar a situação. Ele também fez questão de enfatizar que algumas áreas controladas pelas facções foram retomadas e que o governo está cuidando dos desalojados. “O Estado não entrou em colapso; está aí, vivo, atuante.”