Mundo em alerta: em 2024, risco de guerra nuclear atinge patamar mais alto desde o fim da Guerra Fria
Especialistas apontam escalada de tensões globais e ausência de acordos como fatores de risco crescente
O risco de um confronto nuclear entre potências mundiais nunca foi tão alarmante desde o fim da Guerra Fria. Em 2024, o mundo vive sob a ameaça de uma escalada nuclear sem precedentes, com novas retóricas, mudanças em doutrinas militares e o colapso de tratados de controle de armamentos.
Para especialistas, como Steve Fetter, do Conselho de Ciência e Segurança do Boletim de Cientistas Atômicos, o cenário é de “risco máximo”.
A tensão é visível em diversos frontes, sendo a guerra na Ucrânia o epicentro dessa crise. O vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, surpreendeu ao afirmar: “o perigo de um choque armado direto entre potências nucleares não pode ser subestimado, o que está acontecendo não tem análogos no passado”. No mesmo dia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sancionou mudanças na doutrina nuclear do país, ampliando as circunstâncias que justificariam o uso de armas atômicas.
Retóricas perigosas e demonstrações de força
A Rússia não está isolada nessa dinâmica. A modernização dos arsenais norte-coreano e chinês, tensões entre Índia e Paquistão e o discurso beligerante de líderes como Benjamin Netanyahu, em Israel, colocam mais combustível nesse cenário. Segundo a Associação para o Controle de Armas (ACA), países como Japão e Coreia do Sul debatem abertamente a possibilidade de desenvolver armas nucleares, apoiados por uma crescente adesão popular.
Na China, o arsenal nuclear passou de 200 para 600 ogivas em apenas quatro anos, e projeções indicam que o número pode alcançar 1,5 mil até 2030. Para o Pentágono, trata-se de uma mudança qualitativa e quantitativa significativa, com Pequim desenvolvendo mísseis capazes de atuar em diferentes níveis de escalada.
Já a Rússia utilizou um míssil de alcance intermediário com capacidade nuclear, o Oreshnik, na guerra contra a Ucrânia. Para Steve Fetter, tal atitude é uma forma de “sinalização” ao Ocidente, mas também reflete fraqueza estratégica.
Crise de confiança e ausência de diálogo
A deterioração das relações entre EUA e Rússia agravou ainda mais o cenário. Pela primeira vez desde 1974, os dois países não mantêm conversas significativas sobre controle de armas nucleares. O Novo Start, último tratado remanescente, expira em 2026, e não há sinais de um substituto.
Donald Trump, que reassumirá a presidência dos EUA em breve, contribuiu para essa crise ao abandonar o Tratado de Forças Intermediárias (INF) e iniciar uma retórica que normalizou ameaças nucleares diretas. Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas, avalia que “a quebra do tabu verbal” por Trump e Putin elevou exponencialmente os riscos de uso desses armamentos.
Uma escalada evitável?
Os números atuais são impressionantes: há 12,1 mil ogivas nucleares no mundo, sendo 90% em posse de EUA e Rússia. Cerca de 4 mil estão prontas para uso imediato.
O mundo se aproxima de um território inexplorado em termos de risco político e militar. Sem diálogo e com arsenais em expansão, a humanidade enfrenta a ameaça de um cenário catastrófico. As palavras de Terumi, ganhador do Nobel da Paz, ressoam como um último apelo: “não deixemos que a humanidade se destrua com armas nucleares”.