Margem Equatorial: Petrobras e Ibama não se entendem sobre exploração de jazida gigante
Empresa aguarda resposta do Ibama sobre exploração de petróleo na Margem Equatorial. Blocos na área foram leiloados há mais de uma década
Após inúmeras idas e vindas, Ibama e Petrobras não chegaram a um entendimento sobre a exploração da Margem Equatorial, que tem jazidas estimadas em 10 bilhões de barris e pode ser a nova fronteira do petróleo no país. A decisão sobre as pesquisas no bloco mais promissor dessa região deve ficar para 2025 – ou até depois.
Ibama e Petrobras não se entendem nem sobre quem deve resposta a quem. O órgão ambiental, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, diz que aguarda novas informações da Petrobras. E a petroleira estatal, controlada pelo governo federal, diz que já respondeu a cada questionamento e aguarda a avaliação.
A Margem Equatorial compreende a faixa de águas profundas que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao Pará e, por causa do volume de petróleo envolvido, é considerada um “novo pré-sal”.
O governo calcula arrecadar aproximadamente R$ 1 trilhão com a produção de petróleo na Margem Equatorial. A Petrobras tem interesse especial em um bloco da bacia da Foz do Amazonas (FZA-M-59), onde acredita estar o maior volume em petróleo – cerca de 5,6 bilhões de barris de óleo, segundo estudos da empresa.
A petroleira tem pressa e vem repetindo o alerta de especialistas e órgãos do governo federal, segundo os quais a produção de petróleo tende a cair a partir de 2030, o que fará o Brasil retornar ao posto de importador líquido de petróleo. Apesar das conversas nas esferas técnica e política ao longo do ano, o sinal verde para o começo da operação – o licenciamento ambiental – não saiu.
Assim como pode haver um tesouro sob as águas, o entorno é delicado. O bloco FZA-M-59 está localizado defronte à Floresta Amazônica, onde se concentra um vasto bioma e comunidades indígenas e ribeirinhas.
Desde 2013, quando os blocos da Margem foram leiloados, a Petrobras vem tentando a licença ambiental para a área da Foz do Amazonas, sem sucesso. A maior preocupação de ambientalistas é na hipótese de um vazamento de óleo. A estatal, por sua vez, diz estar capacitada para impedir um desastre.
O Ibama quer garantias mais robustas. Em outubro, o órgão pediu mais informações sobre o plano de emergência em caso de vazamento na região do Oiapoque, no Amapá, a 160 quilômetros do local de exploração de petróleo.
O Ibama disse que não há previsão para a liberação, “uma vez que a Petrobras ainda não reenviou os quesitos e atendimentos necessários para dar continuidade à análise técnica do projeto”.
A Petrobras, por sua vez, informou que, “em resposta, a equipe técnica da empresa detalhou cada questionamento ao Ibama, que avalia as respostas protocoladas”. Anteriormente, a estatal se disse otimista com o avanço do processo de licenciamento.
A Petrobras precisa agora, segundo o órgão ambiental, responder ao pedido de detalhamentos pontuais para a adequação integral do plano de manejo de fauna atingida por óleo, como a presença de veterinários nas embarcações e helicópteros para atendimento de emergências.
Apesar de ambos terem a percepção e reconhecerem “a significativa redução dos tempos de resposta e atendimento à fauna na documentação apresentada pela Petrobras”, a decisão sobre o “novo pré-sal” não deve sair antes do ano que vem.
Brasil já perdeu dez anos ao não explorar Margem Equatorial, disse presidente da Petrobras
A queda de braço também se dá na esfera política e divide o governo, com o Ministério do Meio Ambiente de um lado e o Ministério de Minas e Energia de outro. O fato de Belém do Pará ser a sede da próxima Conferência do Clima – a COP30, em novembro de 2025 – é ponto considerado delicado nessa disputa.
Quando a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, assumiu o cargo, em maio, colocou a Margem Equatorial como uma de suas prioridades para a gestão. No mês seguinte, ela afirmou que o país já perdeu dez anos ao não iniciar os trabalhos na região.
Fonte: gazetadopovo