Artigo

Quem vem lá?

“Só pode ensinar aquele que passou pela severa escola da disciplina,

O Eu, conquanto seja rei, é súdito”

Transcorridos alguns anos de nossa iniciação, me veio uma reflexão calçada nas minhas peregrinações maçônicas estilo cigano, pelas diversas lojas de meu oriente. Para isto vou me servir, “ipsis litteris”. das entrelinhas constantes no título deste trabalho:

Com esta indagação, os neófitos são recebidos pelos diáconos em sua iniciação maçônica. Inevitavelmente muitos deles chegam ávidos por conhecer os mistérios e segredos milenares da Arte Real que posteriormente lhes serão repassados pelas diversas alegorias utilizadas na senda maçônica, com objetivo de lhes transmitir os três graus simbólicos dos diversos ritos abarcados pela Grande Ordem.

A trajetória percorrida pelos novos irmãos inicia pelo grau de Aprendiz. Pela tradição dos franco-maçons, os recém iniciados são colocados na coluna do Norte, onde, filosoficamente os raios do conhecimento maçônico não são incidentes o suficiente para o adequado entendimento de suas instruções. Dizemos que os integrantes desta coluna estão na “escuridão ritualística” de seu aprendizado, lugar onde começa o desbaste da Pedra Bruta interior.

O ingressante precisa entender que ao entrar para uma instituição secularmente séria, vai precisar trabalhar incansável e diuturnamente em defesa do honesto, do nobre, do reto e do justo, em muitos casos, essa confusão interior é um dos fatores que causam a crescente e perturbadora evasão maçônica.

Parece que a presa na aquisição dos segredos, atrelada a desilusão por status sociais relevantes, fazem com que mais da metade dos iniciados “adormeçam” ou simplesmente desistam de seguir o caminho em busca da luz necessária para a construção do alicerce do seu “templo interior”, que somente será possível quando da sua passagem para o grau de companheiro de oficio, posteriormente elevado a condição de mestre maçom.

A evasão maçônica, nesse lento processo de amadurecimento da senda filosófica, é cada vez mais crescente nas lojas e não deixa de ser, guardado as devidas circunstâncias, um fator que pode trazer inúmeras reflexões para seu corpo de dirigentes.

Onde foi que falhamos? Será que nossas sindicâncias foram feitas adequadamente? Em nossas reuniões trazemos e discutimos temas pertinentes com os objetivos da maçonaria, ou só ficamos batendo malhetes aguardando a hora dos banquetes? Os ocupantes da cadeira de Salomão tiveram a seu tempo, o devido cuidado de aprender para depois ensinar?

De maneira bem suscinta, entendemos que essas são algumas das indagações que devemos responder urgentemente, no sentido de buscar soluções, para essa que é uma das mais intrigantes providências que todos devemos dividir como responsabilidades.  

Para ilustrar nossa abordagem temática, tomamos como referência o trabalho apresentado na loja Acácia do Norte № 02, pelos irmãos Salviano Cavalcante Neto e Fabio Jucá, que explorando o tema, utilizaramam a pesquisa feita pelo Mestre Maçom Cassiano Teixeira de Morais, em sua obra “Evasão Maçônica: Causas e Consequências”, Ed. Difusora Maçónica de Conhecimento, 2017, Brasília-DF.

É significante e bastante interessante, observar o perfil dos maçons que deixaram a Maçonaria, relatado pelo autor da pesquisa, que na sua maioria são mestres maçons, com menos de 10 anos de instituição, casados, católicos, com curso superior e com rendas entre 5 e 10 mil Reais.

Diante dessa realidade, o que fazer para manter e fazer crescer o número de adeptos de uma instituição que está presente na América, Europa, Asia, África e Oceania, contando com mais de 200 Grandes Lojas e com aproximadamente 3 milhões de obreiros, isto sem mencionar as lojas das demais obediências maçônicas.

No Brasil, contamos com cerca de 300.000 maçons presentes em 26 Estados e no Distrito Federal.

No contexto geral, o calcanhar de Aquiles que mais causa desilusão aos que abandonam a Grande Ordem é a falta de maior interação com a sociedade, mais precisamente em ações filantrópicas, como por exemplo o engajamento fraternal acontecido recentemente nas enchentes que desabrigaram e desalojaram os irmãos das lojas do Rio Grande do Sul.

Ao ser admitido na Maçonaria, o então neófito tem a prerrogativa de atuar socialmente no meio em que o circunda, em seu trabalho, com seu círculo de amigos e familiares. Dizemos que o maçom é um Construtor Social, devendo atuar ativamente nas causas e mazelas da Sociedade que o circunda de maneira bastante efetiva e constante. A filantropia, nesse sentido, passa a ser uma das maneiras dessa atuação.

Certamente que se faz urgente o engajamento de todos nessa verdadeira odisseia. Trazer de volta alguém que se desencantou com o que esperava e não vivenciou o prometido, é um trabalho e tanto.

É vital que tratemos os vários tipos e motivos das evasões maçônicas (Abandono da Loja e da Potência, Decepção, Compromissos particulares, Problemas financeiros, Insegurança pública, sentida pelos irmãos idosos) das nossas oficinas, sob pena de perdermos de forma irreversível o destaque e relevância da elite cultural e de vanguarda do nosso país, como recordamos no passado histórico, liderado por vários dos nos nossos obreiros ilustres, frente os grandes acontecimentos que bravamente enfrentados contribuíram para a construção da nossa identidade nacional de que tanto nos orgulhamos. Viva o Brasil, Viva a Maçonaria.

Autor: EDISON ROBERTO FONSECA FRAZÃO

[email protected]

Loja Renascença Amapaense № 06/GLOMAP/Mestre Maçom

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