Barco com nove corpos ainda tem perguntas sem respostas
Em 13 de abril passado, a PF encontrou uma embarcação com 09 corpos no Rio Caeté, em Bragança. Barco teria saído da África e foi deslocado por uma corrente marítima até o Brasil. Ainda não se sabe quem eram as vítimas
Uma embarcação à deriva encontrada no Rio Caeté, no município de Bragança, mobilizou as forças de segurança federal e estadual em abril deste ano.
Ainda na manhã do dia 13, um sábado, a Polícia Federal (PF) foi avisada sobre a presença de uma embarcação com corpos na região do Salgado, nordeste paraense.
Ao chegar ao local, a PF constatou que havia 09 corpos já em estado de decomposição no barco e deu início a uma investigação para elucidar o caso e identificar quem eram aquelas pessoas e de onde elas teriam saído.
Os primeiros a avistar a embarcação de pequeno porte às proximidades da praia de Ajuruteua foram pescadores da região, que avisaram as forças de segurança. Além do Corpo de Bombeiros Militar, da Polícia Militar e da Polícia Civil, a Polícia Científica do Pará foi acionada para integrar a operação.
As ações de resgate ainda envolveram uma embarcação da Marinha do Brasil e um bote dos bombeiros militares de Bragança, a Guarda Municipal, a Defesa Civil Municipal e o Departamento Municipal de Mobilidade Urbana e Trânsito de Bragança. Já o inquérito seguiu sob responsabilidade da Polícia Federal do Pará e contou com reforço de peritos e papiloscopistas enviados da sede da PF, em Brasília.
As ações de resgate da embarcação iniciaram por volta das 7h de domingo (14) e só encerraram por volta de 23h30 do mesmo dia, quando as equipes de resgate chegaram ao Porto de Vila do Castelo, em uma comunidade de pescadores da zona rural de Bragança. Na ocasião, a embarcação foi levada para terra firme e os corpos direcionados, inicialmente, para a base da Polícia Científica do Pará em Bragança e, em seguida, para a Unidade sede da Polícia Científica, em Belém.
O trabalho de perícia na embarcação teve início no dia 15 de abril, realizado pela PF em conjunto com a Polícia Científica do Pará, e de início apontou que os documentos e objetos encontrados no barco, junto aos corpos, eram de imigrantes do continente africano, mais especificamente da região de Mauritânia e Mali.
Ainda através da perícia realizada no barco, foi possível identificar a presença de 25 capas de chuva, sendo 23 capas verdes idênticas e duas amarelas; além de 27 telefones celulares, o que levou a polícia a divulgar, ainda no dia 16 de abril, que pelo menos 25 pessoas deveriam ter estado na embarcação.
Já na quarta-feira (17), a Polícia Federal e a Polícia Científica realizaram trabalhos de exames nos corpos, realizando exames radiológicos; exame médico-legal, para a coleta de DNA; exames da dentição; das digitais; além de exame das roupas, pertences, documentos e adereços.
Vítimas
Todos os dados colhidos a partir desse trabalho foram enviados para os Institutos Nacionais de Criminalística e de Identificação da PF, em Brasília, contando com apoio da Interpol e organismos internacionais. Ao todo, de acordo com a Polícia Federal, o trabalho de perícia envolveu mais de 30 pessoas e uma atuação multidisciplinar que adotou o padrão de identificação de vítimas de desastres da Interpol.
Após a realização dos exames necessários e ainda sem que fosse possível identificar as vítimas, os nove corpos encontrados (sendo oito dentro da embarcação e um próximo a ela) foram temporariamente sepultados, no dia 25 de abril, no cemitério São Jorge, no bairro da Marambaia, em Belém.
A expectativa é que, assim que for possível estabelecer as identidades dos corpos, as famílias sejam formalmente comunicadas. O procedimento realizado permite que, caso seja a vontade dos familiares, futuramente os corpos possam ser exumados e sepultados em outro local.
Sobre os elementos que envolveram a tragédia, a Polícia Federal informou que a análise preliminar dos documentos encontrados indicou que a embarcação deve ter saído da Mauritânia, na África, após o dia 17 de janeiro deste ano. Para a polícia, a embarcação tinha como destino as Ilhas Canárias, na Espanha, frequentemente usada como rota migratória para entrada na Europa.
Os indícios coletados pela PF consideram que o barco saiu de Mauritânia e acabou sendo deslocado por uma corrente marítima que o levou até o Brasil. Ainda segundo a polícia, o barco encontrado era uma construção artesanal, que não tinha leme, motor ou sistema de direção. A polícia segue em contato permanente, via Interpol, com organismos internacionais.