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Lula apanha quando merece e quando não merece apanhar

Em questão, a interferência em assuntos internos de outros países

Por Ricardo Noblat

Ao longo dos seus dois governos passados, Lula meteu-se em eleições de outros países, de preferência, em países vizinhos do Brasil, disputadas por candidatos de esquerda.

Por conta disso, apanhou muito da direita e, particularmente, da mídia em geral. Diziam os críticos: a soberania dos Estados deve ser respeitada por mandatários de outros Estados.

De fato, não é comum que governantes, pelo menos em público, se manifestem sobre assuntos internos de outros países e apoiem um candidato em detrimento dos demais.

Intervenções na vida alheia acontecem às escondidas. É como agem as grandes potências mundiais ou apenas regionais. Veja o exemplo dos Estados Unidos, China e Rússia.

Por pressão dos americanos, o Brasil foi fiador, no ano passado, de um acordo firmado entre o governo venezuelano e a oposição que garantiria eleições livres e justas naquele país.

Sob desconfiança do mundo, a Venezuela irá às urnas daqui a oito dias para eleger seu presidente. O atual, Nicolás Maduro, concorre ao terceiro mandato consecutivo.

O candidato da oposição é o ex-diplomata Edmundo González. Com vocação de ditador, Maduro ameaça com um “banho de sangue” ou uma “guerra civil” caso não se reeleja.

Quem antes cobrava isenção de Lula, agora cobra sua intervenção em assunto da Venezuela. Lula respondeu ontem à cobrança:

“Por que eu vou querer brigar com a Venezuela, a Nicarágua, a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem. O que me interessa é a relação de Estado para Estado, o que que o Brasil ganha e o que que o Brasil perde nesta relação”.

Dê-se a Lula o benefício da dúvida. Isso pode significar uma mudança de posição que não lhe fará mal, nem ao Brasil, e uma prova de amadurecimento. Só os inflexíveis não evoluem.

E se não for, e se amanhã ele voltar a apoiar candidatos em outros países, logo saberemos. Lula deixou vazar que torce pela reeleição do presidente Joe Biden. Ninguém o censurou.

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