Com a Polícia Federal no encalço, o presidente está em um mato sem cachorro
Parece, mas não é: Entre as traquinagens do famoso político está a compra superfaturada de produtos para o Ministério da Saúde
Por Heródoto Barbeiro
Ele está, como diz a sabedoria popular, em um mato sem cachorro. A Polícia Federal está em seu encalço. Entre as traquinagens do famoso político está a compra superfaturada de produtos para o Ministério da Saúde. Há investigação sobre as sobras do dinheiro arrecadado para a campanha e suspeita-se que parte dele tenha sido transferida para o exterior.
As denúncias cada vez mais intensas são responsáveis pela queda de aceitação do seu governo. A sua popularidade despenca mesmo se deixando fotografar fazendo exercícios em academias, ou pilotando um jet ski, ou jato da FAB.
A chamada “lua de mel” entre a opinião pública e o governo se exaure rapidamente com o insucesso da política econômica, que não é capaz de estancar o ritmo da inflação. Políticos, constantemente vistos em sua mansão, somem da noite para o dia. Não querem se deixar fotografar ao lado dele, pois temem a reação popular e as investigações da Polícia Federal.
A mídia faz oposição cerrada contra o político. Ele se defende ao dizer que o que se divulga são apenas narrativas de quem está interessado em estressar a situação política do país para defender seus interesses inconfessáveis.
A oposição se concentra sobretudo nos partidos de esquerda, nos meios estudantis e, principalmente, nas universidades.
Não há conflitos graves nas ruas, mas os jovens tomam as principais avenidas das grandes cidades brasileiras. Ele incentiva os seus seguidores a peitar as manifestações contrárias, mas não obtém apoio necessário nem no Congresso Nacional, nem nas praças.
Deputados e senadores se digladiam nos púlpitos da Câmara e do Senado. A população acompanha tudo, principalmente no Jornal Nacional da TV Globo. O noticiário político engorda, apoiado nos altos índices de audiência. Ninguém mais desliga a televisão quando um repórter entra ao vivo de Brasília.
O presidente perde metade de sua popularidade de uma hora para outra. A preocupação da bancada de deputados que apoiam o governo no Congresso Nacional, que é muito pequena, sente o barco começar a afundar e é hora de bancar o rato e abandonar o navio.
A promessa de que ele tinha “uma bala de prata” para matar o “tigre da inflação” não saiu do revólver. Ela galopa a um ritmo de 20 por cento ao mês e as pessoas, quando recebem o salário, correm para os supermercados, uma vez que os preços são remarcados mais de uma vez por dia.
As denúncias de corrupção e superfaturamento envolvem o tesoureiro de Fernando Collor, Paulo César Farias, e respingam no presidente. Há um desânimo geral com ele e em um pronunciamento dramático, sentindo que pode perder o mandato, pede ao povo que não o deixe só. Deixaram.
O processo corre célere no Congresso, com reportagens que envolvem Collor, seu irmão, PC Farias, a primeira dama e uma penca de políticos da chamada República de Alagoas. No último momento, Collor renuncia e deixa o governo na esperança de manter o seu direito político.
Mesmo na sua ausência ele tem o mandato cassado e direitos políticos suspensos. O “caçador de marajás”, como Collor era conhecido na campanha, deu um tiro no próprio pé.