MST, CUT e UNE alegam agenda própria e descartam ato contra golpistas
Além de movimentos de esquerda, grupos pró-democracia também preferem não sair às ruas para confrontar a extrema-direita por entenderem que o momento não é adequado
Mesmo com a convocação do ex-presidente Jair Bolsonaro para protestos neste domingo (25), entidades de esquerda não articulam mobilização para se opor à manifestação da extrema-direita. As entidades alegam que têm uma agenda própria, não subordinada à do ex-chefe do Executivo e seus apoiadores.
Nas redes sociais, Jair Bolsonaro convocou apoiadores e orientou aqueles de outros estados a não se reunirem em outros municípios. O foco, de acordo com ele, é reunir o maior número possível de aliados em São Paulo. “Está agendado para o próximo dia 25, domingo, às três da tarde, um grande encontro na Paulista. Um movimento sério, disciplinado e pacífico pelo nosso Estado Democrático de Direito. Não façam movimentos em outros municípios, o movimento é para a Paulista, exclusivo”.
Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a manifestação de Bolsonaro “é mais uma tentativa de legitimar as investidas antidemocráticas da extrema direita”.
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra não pactua com iniciativas golpistas que tentam deslegitimar a democracia e direitos conquistados pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras do campo e da cidade. Desta mesma forma, entendemos que as manifestações puxadas pelo ex-presidente Bolsonaro para o dia 25 de fevereiro de 2024, em defesa dos atos do fatídico 8 de janeiro de 2023, são mais uma tentativa de legitimar as investidas antidemocráticas da extrema direita e do bolsonarismo em nosso país”, diz a entidade.
A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daiane Araújo, explica que as lideranças da organização estudantil optaram por não convocar mobilização para o mesmo dia, pois o calendário de protestos ainda não foi definido. Ela ainda informa que, em breve, a UNE, por meio de plenária nacional, deve avaliar a conjuntura atual e esquematizar o “calendário de lutas”.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também informou que não irá se mobilizar paralelamente à ação de Bolsonaro por ter uma agenda própria de manifestações. “A CUT tem agenda de ações e lutas em defesa da classe trabalhadora e essa agenda nada tem a ver com a agenda do ex-presidente”, diz a organização.
Além de movimentos de esquerda, grupos pró-democracia também preferem não sair às ruas para confrontar a extrema-direita por entenderem que o momento não é adequado. É o caso do Instituto Política Viva, que promove educação política e fortalecimento da democracia. Mediadora do Política Viva, a empresária Rosangela Lyra avalia que entidades de esquerda não devem fazer frente à manifestação de Bolsonaro, que ela descreve como “tentativa espúria dos golpistas”. Segundo Rosângela, a preocupação do ex-presidente deve ser com a Justiça, uma vez que investigações apontam a articulação de uma tentativa de golpe.
“No dia seguinte as pessoas voltam às suas vidas e as investigações também não param. Bolsonaro tem que tentar se defender nos autos e não nas ruas. Por sinal , ao convocar um ato depois de voltar a atacar as eleições numa live recente, depois da manifestação do Silas Malafaia, reafirmando que o Alexandre de Moraes deveria ser preso, Bolsonaro está dando mais motivos para acelerar sua prisão”, diz Rosangela.
Na última semana, um boato circulou a respeito de uma manifestação paralela à de Bolsonaro na Avenida Paulista com a participação de torcidas organizadas de futebol em defesa da democracia. A Gaviões da Fiel e a Mancha Verde, porém, negaram a participação no suposto ato.