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Voa Brasil: de ideia genial a uma armadilha para o governo

Antes pressionadas a ingressar no programa, empresas aéreas agora pedem benesses e prometem passagem a R$ 200 como uma “contrapartida”

O “Voa Brasil” foi prometido para começar em agosto de 2023. Antes da data, porém, adiaram para setembro. O ministro mudou, e a data também.

A segunda quinzena de janeiro de 2024 passou a ser o prazo, mas não deu de novo e a promessa passou a ser 5 de fevereiro. Segunda-feira passada, 5 de fevereiro, nada foi anunciado e, agora, falam em depois do Carnaval.

O que nasceu como um programa com grande apelo popular está se transformando numa verdadeira armadilha para o governo federal. E, hoje, o programa governamental para compra de passagens aéreas a R$ 200 tem chances não desprezíveis de simplesmente ser cancelado, como um voo de um avião repleto de problemas.

Nascido na gestão do ex-ministro de Portos e Aeroportos Márcio França, o programa já nasceu torto e gerou reações negativas – inclusive do chefe dele, o presidente da República.

Dias após o ex-ministro França anunciar o programa em diversas entrevistas, Lula disse na abertura da reunião dos 100 primeiros dias do governo que “qualquer genialidade que alguém possa ter é importante que, antes de anunciar, faça uma reunião com a Casa Civil”.

Era a senha de que o Palácio do Planalto havia sido pego de surpresa e estava incomodado com o que ocorrera. Já era tarde.

O “Voa Brasil” já estava na internet e a promessa de voar por R$ 200 circulava como um vírus no WhatsApp dos brasileiros que não pisam em um aeroporto há anos ou sonham em voar pela primeira vez.

O setor aéreo é um dos mais regulados de qualquer economia. A necessidade de regras rígidas e padrões internacionais de segurança de voo geram uma enorme quantidade de leis e normas – e basicamente todas determinadas pelo governo federal.

Por isso, não foi de se estranhar que a reação inicial das empresas aéreas tenha sido tão amigável. Departamos de comunicação divulgaram notas com elogios e interesse das companhias em participar da empreitada. A avaliação nos bastidores, porém, sempre foi diferente.

A estranheza começava pelo simples fato de que uma parte das passagens já é vendida nesse patamar mágico do “Voa Brasil”. Em 2023, 14,9% de todos os passageiros pagaram até R$ 200. O dado é da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e indica que cerca de 12 milhões de passageiros domésticos pagaram bilhetes até esse valor.

A estranheza crescia no fato de que o setor aéreo tem um dos modelos de precificação mais complexos de toda a economia. Com o uso de algoritmos sofisticados, as aéreas trabalham 24 horas por dia para, basicamente, tentar encher os aviões com o máximo de passageiros pagando o maior preço possível.

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